O Benfica continua a arrastar-se pelos relvados armado em lagarto do deserto. Um lagartinho com a língua de fora, cansado de tanto esforço; garras afiadas quanto baste para tirar a cera dos ouvidos ou as bolotas enroladas nos pêlos do cú - e sim, os lagartos também têm pêlos! eu, que tenho uma curiosidade cientifica pelos mais ínfimos promenores da anatomia dos répteis, já vi! posso prová-lo! testemunho isso em qualquer colóquio cientifico! Bom, é um lagarto que não manja nada que se veja a não ser moscas já mortas ou à beira da mesma, que jazem perto de cagalhões ou corpos putrefactos, onde largam os seus preciosos ovinhos. O lagartinho lá anda por esse deserto fora, focinho empinado, a farejar o cheiro a merda ou a carne podre, lutando conta as constantes mudanças do vento que lhe vão trocando os passos na perseguição da côdea. Vai sobrevivendo, assim, a custo. A travessia é longa, e o largarto só tem duas opções: ou se decide a continuar a viagem na eterna verde esperança de encontrar de novo o caminho certo ou volta para trás, até à encruzilhada onde julga que se enganou. As duas opções comportam riscos. Ora, continuar a viagem sem mapa nem bússola é um tiro no escuro. Por cada tiro faz figas, com os seus dedos de réptil, enquanto lança umas preces para o céu na esperança de intervenção divina. Mas só lhe restam balas de pólvora seca. Vá lá, que ainda tem a arma que sempre assusta os mais assustadiços. As suas terríveis façanhas do tempo da avózinha também dão uma ajuda, diga-se de passagem. Foi assim que conseguiu, no seu último feito digno de registo, assaltar o quiosque Oliveira - disto falarei noutro post. A outra opção é voltar para trás. Mas se o lagarto volta para trás, será certamente bombardeado com uma montanha de pedras da calçada por parte dos senhores da plateia, defensores de que o caminho se faz sempre para a frente, aconteça o que acontecer. Estes fervorosos senhores da plateia, distinguem-se dos demais bípedes pelo uso de um capote gasto, fora de moda há mais de trinta anos. Capotes que ficam a dever mais ao roupão que propriamente aos seus primos capotes que desfilam nas passerelles de Paris. Estes excelsos senhores, para além de cheirarem mal dos pés, têm o costume de andar pela berma da estrada como forma de protesto contra mau estado dos passeios públicos - aqui, sou obrigado a concordar. Os nossos passeios seriam um autêntico repasto para o nosso lagarto por serem autênticas maternidades, ou melhor, cemitérios de moscas.
Tome a decisão que tomar, o lagarto não terá vida fácil. Haverá sempre os que tiram proveito da desgraça alheia.
quarta-feira, outubro 18, 2006
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